A presente pesquisa trata da avaliação do potencial antifúngico do agrião frente ao fungo Malassezia pachydermatis. Essa levedura lipo-zoofílica é responsável por mais de 90% dos casos de dermatite e otite externa em pequenos animais como cães e gatos, acarretando dor, prurido e inflamação. O tratamento utiliza derivados de azóis, como o cetoconazol, ou compostos sulfurados, como o sulfeto de selênio. Entretanto, cerca de 80% da população brasileira não tem acesso ao auxílio de fármacos, além de apresentarem elevado preço, se tornando necessária a busca por alternativas mais acessíveis. O agrião, por sua vez, tem sido descrito como uma planta crucífera popular rica em fitoquímicos, especialmente os sulfurados glucosinolatos, sendo seus extratos descritos com potenciais antioxidantes, antiinflamatorios e antimicrobianos. Dessa forma, tem-se por objetivos avaliar o potencial antifúngico de extratos do agrião qualitativa e quantitativamente, bem como executar a triagem fitoquímica dos compostos devidamente extraídos. Para tanto foram obtidas três amostras de agrião comercial distintas que foram limpas em água corrente e secas em estufa à 45 ºC por 24 a 48 h. Suas massas vegetais foram homogeneizadas e para cada amostra foram feitas 3 extrações por trituração na presença de solvente, sendo eles água à 70 ºC, etanol absoluto e acetato de etila, respeitando a proporção 1 g de agrião/5 mL de solvente, alterando a polaridade dos compostos extraídos. Os solventes foram evaporados e se seguiram os testes fitoquímicos: foi a avaliada a presença de flavonoides com FeCl3 e a reação de Pew (Zn e HCl concentrado), aminogrupos por reação com ninidrina, cumarinas por luminescência no UV após reação com NaOH e esteroides ou triterpenos pela reação de Liebermann-Burchard (anidrido acético e ácido sulfúrico concentrado). os extratos também foram aplicados em um teste de espectrometria de infravermelho para avaliar os grupos funcionais presentes. A cepa de M. pachydermatis foi obtida por doação do Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) da UFRGS, o meio utilizado foi o Sabouraud Dextrose sem suplementação lipídica. Atividade antimicrobiana foi avaliada qualitativamente em teste de antibiograma por disco-difusão da seguinte forma: três discos de papel padrão para antibiograma previamente estéreis foram embebidos em 20 µL de cada extrato – estéreis e ressuspendidos em água a 2% m/v – e dispensados no ágar inoculado por swab embebido em suspensão 0,5 McFarland da levedura. O diâmetro dos halos foram medidos com paquímetro e considerados mais sensíveis os extratos com diâmetro próximo ou maior que 10 mm. Observou-se a presença de todos os fitoquímicos testados, entretanto os extratos aquosos apresentaram maior visualização de flavonoides e aminogrupos, os etanólicos, de esteroides ou triterpenos, enquanto em acetato de etila, de cumarinas. Os testes de infravermelho revelaram bandas entre a região de 1060 a 1040 cm -1 para todos os extratos e pequenas vibrações na região de 2270 a 1940 cm -1. As primeiras bandas estão relacionadas ao grupo sulfóxido, S=O, grupo funcional característico de glucosinolatos, enquanto as segundas se referem ao grupo isotiocianato, os compostos majoritários da degradação enzimática dos glucosinolatos pela mirosinase. Os ensaios de antibiograma forneceram diâmetros médios (em mm) dos halos de 9,47, 9,50 e 9,15 respectivamente para os extratos aquosos 1, 2 e 3; 10,53 e 6,48 para os extratos etanólicos 1 e híbrido das amostras 2 e 3, enquanto os extratos em acetato não apresentaram atividade inibitória. Portanto, pode-se concluir que os extratos de agrião apresentaram considerável riqueza fitoquímica variando seu perfil de metabólitos de acordo com o solvente extrator. Os extratos aquosos e etanólicos apresentaram potencial inibitório no antibiograma, diferentemente dos extratos em acetato de etila, sendo o perfil fitoquímico dos solventes mais polares melhor indicativo de potencial antifúngico.