As pessoas com deficiência visual, encontram no dia a dia uma série de barreiras que podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade. Por mais que o Brasil possua leis que visam garantir inclusão e acessibilidade para pessoas com deficiência, a realidade infelizmente não reflete a perspectiva idealizada, sendo os direitos dos deficientes desrespeitados em diversos ambientes públicos ou privados. Segundo o IBGE (2010), cerca de 23,9% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, dos quais 23,2% dos casos relacionados à deficiência visual. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), no mundo existem aproximadamente 36 milhões de pessoas cegas (deficiência visual severa), 217 milhões com baixa visão e 350 milhões com algum grau de daltonismo. No Brasil, são aproximadamente 506 mil pessoas cegas (30 mil crianças), 6 milhões com baixa visão (140 mil crianças) e 8 milhões de pessoas com algum grau de daltonismo (2,48 milhões crianças).
Esses dados motivaram os integrantes do grupo a utilizar os conhecimentos adquiridos em eletrônica e programação em prol da acessibilidade e o objetivo do projeto DAIC é auxiliar as pessoas com deficiências visuais (principalmente as crianças), em uma tarefa aparentemente simples: identificar as cores de um objeto desejado. Para isso, pretende-se a proposição de um dispositivo eletrônico portátil e de fácil uso, capaz de identificar pelo menos 10 cores básicas pré-definidas (as mais comuns em materiais utilizados em atividades lúdicas). Por meio dele, acreditamos ser possível oportunizar uma vida mais inclusiva, em uma sociedade predominantemente visual, permitindo a realização de tarefas simples (mas significativas) de forma independente (como a escolha de uma roupa, a identificação de cores de um gráfico, a diferenciação de tons de maquiagem, a seleção de uma tinta para pintura, etc). Queremos garantir assim o direito à autonomia, independência, autoconfiança e respeito a nossos direitos mais básicos como cidadãos.
Baseado na placa Arduino o protótipo será dotado de um sensor RGB, capaz de realizar a leitura capturar uma imagem e devolver, numericamente, a quantidade (entre 0 a 1024) de cada um dos três matizes primários da luz (sistema RGB) que compõe a cor de um objeto, juntamente com o seu gama que demonstrar o brilho ou opacidade. Através de eletrônica e de lógica computacional, pelo menos 10 cores poderão ser identificadas: amarelo, azul, branco, laranja, marrom, preto, rosa, roxo, verde e vermelho. Após a identificação, pretende-se que o dispositivo apresente a cor de duas formas: sonora (narração automática) e visual (por meio de um display LCD).
Por buscar um impacto direto na realidade estudada, a pesquisa pode ser considerada aplicada e como os dados a serem coletados serão tanto de natureza objetiva (parâmetros mensuráveis) quanto subjetiva (depoimentos, impressões e relatos) pode também ser posicionada como quali-quanti. Assim, a análise dos dados utilizará diferentes estratégias como a sumarização e criação de índices e o posicionamento dos relatos em relação à variáveis e a classificação dos mesmos como positivos, negativos ou neutros dentro daquele contexto.
Por tratar-se de um projeto recente (apenas 3 meses), poucos dados foram coletados e talvez o mais significativo seja a assertividade de 70% para as 10 cores na primeira tentativa (com um índice relevante de 12% de falsos positivos para a cor amarela). Nas próximas etapas (planejado para conclusão até o fim do primeiro semestre de 2022), mais testes serão realizados, inclusive com usuários e com o suporte e acompanhamento da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul. Assim a validação final só se dará em etapas futuras, mas dada a relevância do tema e a nossa vontade de aplicar o conhecimento em tecnologia para trazer autonomia e independência às pessoas com deficiência visual, consideramos a proposta válida e buscamos apoio, incentivo e parceiros interessados em transformar, conosco, realidades.